24º DOMINGO DO TC 16/09/2012
1ª Leitura Isaias 50, 5-9ª
Salmo
114 (115) , 9 “Na presença do Senhor continuarei o meu caminho na terra
dos vivos”
2ª Leitura Tiago 2, 14-18
Evangelho Marcos 8, 27 -35
"O CRISTO DOS DESILUDIDOS!"
Com certeza esse evangelho
do 24º. Domingo do Tempo Comum, traz em nosso coração essa pergunta tão
inquietante: O que significa perder a vida por causa de Jesus e do seu
evangelho? Quem é Jesus, e o que significa a afirmativa de que é preciso
“Perder para ganhar”?.
Nos primeiros três
séculos da Igreja primitiva, quando o Cristianismo não estava atrelado ao
Império, tivemos centenas de mártires que derramaram seu sangue na arena, por
causa do testemunho. Nas comunidades de Marcos a perseguição do império romano
era muito intensa e os que eram pegos e não renunciavam a fé em Jesus, eram
presos e acabavam também mortos. Na América Latina não foram poucos os
mártires, que tombaram defendendo o direito e a justiça do povo sofrido e
injustiçado.
Será que é deles
que o evangelho está falando, no sentido literal? Será que não podemos aplicar
hoje ás pessoas de nossas comunidades essa expressão, de que elas também perdem
a vida por causa de Cristo e do seu evangelho? Em certo sentido, é muito válido
dizer que nossos agentes de pastorais, perdem a vida, quando se dedicam a
tantos trabalhos estafantes, muitos até nem vivem mais para si mesmo, mas
organizam suas vidas a partir da comunidade, e fazem isso com muita alegria e
seriedade. Deixar de lado os interesses pessoais, para dedicar-se ao trabalho
pastoral, sem dúvida é também perder a vida.
Entretanto, não é
apenas isso, porque muitas vezes recebemos algo em troca, e nesse caso, se
ganhamos e não estamos perdendo, o evangelho não se aplica, ainda que haja uma
roupagem de trabalho pastoral, mas é só roupagem, pois no fundo a gente se
apega ao cargo, ao poder, que sempre nos fascina, nas comunidades há certos
coordenadores que “mandam” até mais que o padre, e o poder satisfaz ao nosso
“ego”.
Jesus havia se dado
conta de que a visão sobre o seu Messianismo, era equivocada. Com o objetivo de
fazer a necessária correção, fez uma prova oral com seus discípulos, primeiro
eles são indagados sobre o que o povão pensa a respeito dele, e ao saber que o
povo o confundia com João Batista, Elias ou um dos profetas, parece que Jesus
não demonstrou nenhuma preocupação, e foi direto ao assunto que mais lhe
interessava: “E vocês, quem dizem que eu sou?”. A resposta de Pedro foi
corretíssima “Tu és o Messias!”. A questão é saber, de que Messias Pedro estava
falando. Por isso, em seguida, Jesus revela o sentido do seu messianismo, que
irá se consolidar no sofrimento, na rejeição, na morte e ressurreição.
Na visão de Pedro,
no Messianismo de Jesus tudo vai dar certo e as coisas vão se resolver, as
contas irão fechar, pois Jesus irá por ordem na casa, com o seu poder divino.
Ninguém irá resisti-lo... Não é essa a ilusão que toma conta do coração de
muitos cristãos em nossas comunidades? O Jesus do “tudo certo”, do “mar de
rosas”, da “doce paz, da saúde, da prosperidade”, o Jesus da reviravolta, que
só me dá vitória em cima de vitória, o Jesus que sempre me tira dos “enroscos”
da vida. Esse não é o Jesus do Evangelho, mas o Cristo dos Desiludidos!
Encontrar sempre
respostas prontas, caminhos largos, problemas resolvidos, portas abertas, nunca
foi e nem será uma característica do cristianismo. Anunciar um Jesus assim é
trair o projeto de Deus, é falsificar o evangelho, é ser Satanás, aquele que se
opõe ao Reino do Céu. Infelizmente na pós-modernidade, muitas igrejas, sem
raiz, sem história e nem tradição, idealizaram um Jesus produto do consumo, um
Cristo que só abençoa os ricos e poderosos. Nessa teologia de fundo de quintal,
os dois últimos versículos do evangelho desse domingo, são deixados de lado,
pois não falam a linguagem da pós modernidade. Quem irá, nos dias de hoje,
fazer marketing de um projeto que implique renúncia, cruz e sofrimento? Um
projeto cuja proposta de Salvação seja pautada pelo desprezo á própria vida,
deixando de lado até interesses particulares.
Proposta de
Salvação que não fale em vitória, em sucesso, em prosperidade, não dá IBOPE,
não lota templo, não dá audiência. Qualquer marqueteiro da atualidade teria a
mesma reação de Pedro e repreenderia Jesus... Onde já se viu, começar um
projeto prenunciando o fracasso da cruz?
O Messianismo de
Jesus vislumbra sim, um mundo totalmente novo, mas ele não descarta a aspereza
do caminho, as pedras do calvário, os penhascos, os espinhos, a ousadia de um
sonho, que vai se construindo com os pés no chão da história, vivendo já no
coração os valores desse reino que virá. O autêntico discípulo é aquele que,
vislumbrando esse reino, descobre-o presente em Jesus que caminha com a sua
igreja, e passa a viver cada minuto, hora e dia, apenas em função desse projeto,
menosprezando todo e qualquer valor ou ideologia, que o mundo possa oferecer,
porque crê sinceramente que nada é maior ou mais importante do que Cristo e a
Boa Nova do Evangelho. É exatamente assim que o quadro se reverte, e a PERDA se
transforma em GANHO, como ensina o evangelho... (24º Domingo do Tempo Comum)
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